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DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO

Com a evolução do capitalismo, podemos perceber que as desigualdades das relações entre os países favoreceram a concentração de riquezas em algumas nações e a pobreza na maioria dos países do mundo.

Vimos que após a Revolução Técnico-científica, houve uma multipolarização na realidade geopolítica mundial tornando-a mais complexa, em que as oposições entre os países tornaram-se mais marcantes no que diz respeito as desigualdades socioeconômicas. Na ciência geográfica, o conceito de região, está ligado a idéia de diferenciação de áreas, sendo que regionalizar significa agrupar as extensões territoriais que apresentam características homogêneas. Essa homogeneidade pode estar ligada a aspectos naturais como clima, vegetação e relevo, ou a aspectos socioeconômicos e culturais, como indústria, distribuição de renda ou religião.

Quando nosso objetivo é estudar a realidade mundial sob critérios de natureza política e socioeconômica, torna-se de grande importância buscar na história e nas informações advindas de dados qualificativos e quantitativos (estatísticas) a base para a regionalização do espaço geográfico. Dessa forma, o mundo já foi dividido em  duas áreas distintas que compreendiam as metrópoles de um lado e as áreas coloniais de outro. Após a Segunda Guerra Mundial, desencadeou o processo de descolonização da África e da Ásia, consolidando-se num mundo bipolar em termos geopolíticos com duas faces: um mundo capitalista e um mundo socialista.

Entretanto em termos socioeconômicos, uma nova regionalização do espaço geográfico foi criada com base na terminologia de Primeiro Mundo que compreendia os países capitalistas industrializados com economia mais desenvolvida, o Segundo Mundo conjunto de países socialistas de economia estatal e planificada e o Terceiro Mundo englobando os países menos desenvolvidos economicamente.

Esta última regionalização prevaleceu até a década de 90, quando do enfraquecimento do socialismo e a extinção da União soviética, o termo Segundo Mundo tornou-se obsoleto e caiu em desuso. A partir de então, as preocupações mundiais, voltaram-se muito mais para as desigualdades existentes entre os países no que diz respeito ao acesso às tecnologias, à distribuição da renda e ao nível de vida das populações.

Assim foram estabelecidas novas regionalizações com o objetivo de expressar com maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo, levando em conta o nível de desenvolvimento das nações, ou seja, o patamar em que se encontra a economia de um país e o nível de renda e de acesso a serviços de saúde, educação, habitação e lazer (padrão de vida) de sua população em relação aos demais países do mundo. Temos assim países desenvolvidos ou centrais de um lado e países subdesenvolvidos ou periféricos de outro.

Desta forma, podemos considerar desenvolvidos, os países que possuem alto nível de industrialização, amplo e diversificado mercado consumidor de bens e serviços e cuja população usufrui um elevado padrão de vida, com economia pujante, em que o crescimento depende na maioria das vezes, de suas próprias forças produtivas. Ocupam o centro do sistema capitalista, exercendo forte domínio econômico e tecnológico sobre as demais nações. Atualmente é formado por um pequeno grupo das nações mais ricas e industrializadas como Estados Unidos, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, França, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Itália e outros países de menor expressão da União Européia.

Já os países subdesenvolvidos são aqueles com menor nível de industrialização ou com economias baseadas predominantemente no setor primário (agropecuária e atividade extrativa), dependentes tecnológica e financeiramente dos países mais ricos e cuja população, em sua maioria, possui baixo padrão de vida, atuando na periferia do sistema capitalista, geralmente servindo as nações mais ricas com matéria prima e mão de obra.

Pode-se dizer que a origem do subdesenvolvimento está no longo período de dominação política e econômica das metrópoles sobre as colônias no período do capitalismo comercial (séc. XVI a XVIII) na época da colonização da América e do capitalismo industrial (séc. XIX e início do XX), período do capitalismo industrial, época do imperialismo e a colonização da África e da Ásia.

COLONIZAÇÃO INGLESA NO MUNDO

Desta forma, o capitalismo comercial e industrial estabeleceu as bases da relação de dominação e de dependência entre as metrópoles européias e suas colônias. As metrópoles mercantes passaram a explorar todo tipo de recursos econômicos que as colônias podiam oferecer, sobretudo minérios, especiarias e produtos agrícolas tropicais, enriquecendo as primeiras as custas da exploração das segundas, permitindo a acumulação de capitais suficientes para impulsionar a atividade industrial e toda a revolução das técnicas que se daria a partir de então. Esse fato colocou essas nações do norte  na vanguarda do desenvolvimento econômico, tecnológico e social, posição que mantém até os dias atuais.

As colônias por sua vez permaneceram durante séculos sob o domínio político e econômico das metrópoles, exportando matéria prima e importando produtos manufaturados. Mesmo depois do processo de independência, a grande maioria delas, com exceção dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, continuaram dependentes dos países industrializados do Norte, em razão principalmente da divisão internacional do trabalho.

A Divisão Internacional do Trabalho (DIT) nestes períodos, sempre foi controlada pelos países ricos, que monopolizavam o comércio com suas colônias, entretanto, com a independência destas colônias, as antigas metrópoles buscaram outros meios de garantir seus lucros no relacionamento com essas novas nações, que passaram a ser fornecedoras de matérias primas agrícolas e minerais (produtos de baixo valor agregado) e tornaram-se consumidoras de produtos industrializados (produtos de alto valor agregado), capitais (investimentos e empréstimos) dos países ricos. Assim as ex-colônias, com exceção dos EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, passam a  serem classificadas como países subdesenvolvidos não industrializados. Essa Divisão Internacional do Trabalho (DIT) é denominada DIT Clássica.

Com o surgimento das empresas transnacionais, essas empresas passaram a buscar alguns desses novos países não só para vender seus produtos e aplicar seus capitais, mas também buscar matérias primas abundantes e mão-de-obra barata, a fim de aumentarem seus lucros com a redução dos custos da produção. É o caso do Brasil, Índia, México, Argentina, África do Sul, Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e China, entre outros, dando origem a uma nova divisão Internacional do Trabalho, conhecida como DIT da nova ordem mundial.

Os novos países industrializados passam a ser fornecedores de produtos industrializados de baixa tecnologia, capitais, lucros das transnacionais, pagamento de juros e da dívida externa, bem como, matérias primas agrícolas e minerais aos países ricos, que por sua vez, passam a serem fornecedores de produtos industrializados de alta tecnologia, empréstimos, investimentos e a própria tecnologia para esses novos países industrializados. Assim essa nova DIT é mais complexa envolvendo o fluxo de mercadorias e capitais de ambos os lados. Entretanto a DIT clássica continua a conviver com a nova DIT (nova ordem mundial).

Desse modo passamos a ter países capitalistas ricos que ocupam o centro do sistema e países capitalistas pobres (industrializados ou não) agregados na periferia do sistema para servirem ao capitalismo central. Surge a expressão tríade formada pelos EUA, Japão e União Européia, países centrais que comandam o capitalismo. Os demais países formam os países periféricos. Assim pode-se dizer que os países ricos são os desenvolvidos, os países pobres industrializados e não industrializados os subdesenvolvidos. É importante ressaltar que aqueles em posição intermediária, os subdesenvolvidos industrializados, são também chamados de países emergentes, que compreende o Brasil, México, Argentina, Chile, Turquia, Africa do Sul, India, China, Taiwan, Cingapura, Coréia do Sul, Indonésia, Tailândia, Filipinas e Vietnã, também conhecidos como Novos Países Industrializados.

A análise periódica de indicadores socioeconômicos como a renda per capita, a mortalidade infantil, a expectativa de vida, o analfabetismo (grau de instrução e educação), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre outros, tem sido de grande importância para detectar tanto o nível de desenvolvimento quanto as profundas desigualdades socioeconômicas que separam os países ricos e industrializados do Norte dos países pobres e tecnologicamente atrasados do Sul.

Dentre os itens avaliados um dos mais importantes é o Índice de Desenvolvimento Humano, pois avalia o nível de desenvolvimento de um país conforme expectativa de vida de seus habitantes, aquisição de conhecimento e grau de instrução e renda per capita. Pode variar de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida da população do país.

Apesar de encontrarmos grandes diferenças entre os países subdesenvolvidos, todos apresentam características comuns, como:

  • Desigualdades Sociais - causada pela grande concentração de renda;

  • Péssimas condições de habitação, saneamento, desnutrição, analfabetismo;

  • Dependência econômica e tecnológica com mercado dominado por empresas transnacionais;

  • Dívidas externas, onde os pagamentos descapitalizam a economia e o Estado;

  • Balança comercial desfavorável - importações maiores que as exportações;

  • Indicadores socioeconômicos desfavoráveis, como alta taxa de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, baixa renda per capita, baixo grau de escolaridade e IDH baixo.

CARACTERÍSTICAS DO SUBDESENVOLVIMENTO

  • Passaram por um grande processo de exploração durante o período colonial. Colônia de Exploração;

  • Baixo nível de industrialização, com exceção de alguns países como os países emergentes;

  • Dependência econômica, política e cultural em relação às nações desenvolvidas;

  • Deficiência tecnológica e baixo nível de conhecimento científico;

  • Rede de transporte e meios de comunicação deficientes;

  • Baixa produtividade na agricultura que geralmente emprega numerosa mão-de-obra;

  • População Ativa empregada principalmente nos setores primários ou no setor terciário e em atividades marginais (camelôs, trabalhadores sem carteira assinada etc);

  • Cidades com crescimento muito rápido e cercado por bairros pobres e miseráveis;

  • Baixo nível de vida da maioria da população;

  • Crescimento populacional elevado;

  • Elevada taxa de natalidade e mortalidade infantil;

  • Expectativa de vida baixa.

  • Alta desigualdade social com má distribuição de renda;

  • Escolarização insuficiente ou de baixa qualidade com ausência de quadros técnicos e científicos;

Existem países subdesenvolvidos que são fortemente industrializados como é o caso do Brasil, México, Argentina, África do Sul, Turquia, Chile, Índia, China, Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura, Indonésia, Tailândia, Vietnã, entre outros. A industrialização existente nesses países na verdade é sustentada por países desenvolvidos, que os utilizam para expandir seus parques industriais e garantir lucros vultosos. Um exemplo nítido de expansão industrial é o caso dos Tigres Asiáticos que evoluíram enormemente nas últimas décadas, principalmente no setor industrial através do capital e tecnologia japonesa.

Alguns fatores atraem esses investimentos estrangeiros para os países subdesenvolvidos, como:

  • Mão-de-obra barata e numerosa;

  • Muitas vezes são isentos de pagamento de impostos (incentivos fiscais);

  • Doação de terrenos por parte do governo;

  • Remessa de lucro das transnacionais para a sede dessas empresas;

  • Legislação flexível.

Na visão de alguns escritores como Demétrio Magnoli:

 "A grande mutação na economia mundial e na geopolítica planetária agravou as desigualdades entre a acumulação de riquezas e a disseminação da pobreza. O desenvolvimento assume padrões crescentemente perversos, marginalizando parcelas maiores da população. Em escala mundial, a década de 80 presenciou uma ampliação da fratura econômica entre o Norte e o Sul. Atualmente, os 20% mais ricos da população do planeta repartem entre si 82,7% da riqueza, enquanto os 20% mais pobres dispõem apenas de 1,4%."

 

Embora EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França sejam os mais ricos do mundo, Brasil, China, Índia e México, entre outros, em muitos aspectos (PIB, produção industrial, recursos naturais e mercado interno) são mais ricos que alguns países classificados como desenvolvidos.

 

Nos países subdesenvolvidos, o Estado deixa de fazer muitas de suas atribuições básicas para satisfazer os desejos da classe social ou grupo étnico dominante. É comum a ajuda do Estado, com incentivos fiscais, concessão de subsídios aos mais diversos grupos econômicos ligados ao poder.

 

Essa situação foi mais para gerar lucros a setores de empresariados nacionais, até mesmo multinacionais, do que para gerar crescimento econômico. Essas medidas são prejudiciais, pois prejudicam o mercado consumidor, que paga mais caro por produtos e serviços que nem sempre são de boa qualidade.

 

Um exemplo é o da indústria automobilística. Empresas estrangeiras, que estão protegidas por altas tarifas de importação, venderam ao Brasil, durante muitos anos, automóveis de qualidade inferior e bem mais caros, do que os carros produzidos pelas mesmas empresas em seus territórios.

 

O desvio das funções do Estado, junto com a impunidade e o desrespeito ao povo acabam gerando nos países subdesenvolvidos, outro problema: a corrupção. Embora também exista nos países mais ricos, é mais forte e atuante nos países em desenvolvimento, um problema que consome muitos recursos que poderiam ser usados para combater as crises sociais.

 

A dívida externa é outro problema que aflige esses países. Na maioria dos casos as dívidas foram contraídas por regimes ditatoriais. O dinheiro, quando não foi usado para enriquecer membros do governo, que possuem contas em outros países, foi utilizado para realizar obras caras e duvidosas.

 

Porém no momento de se pagar os juros dessas dívidas, o ônus do pagamento recaia sobre toda a sociedade. As camadas mais pobres são as que mais sofrem com essa carga, pois quase em nada se beneficiam dos empréstimos.

 

Assim, só culpar as históricas dominações estrangeiras não esclarece muito a situação em que a maioria da população vive nos países subdesenvolvidos. Não podemos esquecer o choque de interesses que existe em cada país, e os conflitos entre as classes. Os indivíduos que tem o poder nos países subdesenvolvidos, formando as elites nacionais, fingem não ver a situação do país e se beneficiam dela. Geralmente a parte da burguesia local que controla os setores mais dinâmicos da economia, está associada aos grupos transnacionais.

 

Um outro problema bem sério, são os conflitos étnicos e religiosos, que prejudicam ainda mais a economia e agravam a pobreza e fome. É comum gastar muito dinheiro na compra de armas para os conflitos, enquanto milhares de pessoas passam necessidade.

 

Pode-se concluir que o problema do subdesenvolvimento é um fenômeno complexo, criado por causas externas e internas aos países, sendo difícil se dar uma explicação simples. Entretanto, somados aos problemas decorrentes da própria incapacidade de administrar, relações de dominação da época colonial, submissão a interesses de empresas transnacionais, corrupção, conflitos étnicos, governos ditatoriais e dívidas externas, todos vieram agravar a situação de pobreza desses países e seu subdesenvolvimento.

 

 

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